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“O tempo do documentário é o tempo da realidade, não o tempo do autor”, afirma Silvio Tendler


O cineasta, diretor de Utopia e Barbárie, conversou com estudantes da segunda edição do módulo Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo sobre a produção de documentários de fôlego e a construção de bons percursos cinematográficos.


O sétimo encontro do curso Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo foi marcado pela presença de um dos maiores documentaristas brasileiros, Silvio Tendler, e foi ainda precedido pela audição da sua obra Utopia e Barbárie, que levou 19 anos para ser finalizada.


Silvio Tendler é cineasta, documentarista, professor e historiador. Conhecido como o “Cineasta dos Sonhos Interrompidos”, conta histórias como a dos presidentes Juscelino Kubitscheck e João Goulart, do político e líder guerrilheiro Carlos Marighella, do poeta Castro Alves, do médico e ativista do combate à fome Josué de Castro, do geógrafo Milton Santos, do cineasta Glauber Rocha e tantas outras. Ganhou o apelido justamente por contar histórias de personagens marcantes e essenciais para a história de lutas no Brasil, mas que não tiveram chance de completar suas obras.


Para ele, que já produziu e dirigiu mais de 70 filmes, entre longas, médias e curtas metragens, “o cinema é uma forma de reflexão e deve ser usado como tal.”


“Eu acredito na vida longa que o documentário tem. O documentário permanece no tempo, ao mesmo passo que os filmes de ficção, cinematográficos, não. O documentário tem esta sobrevida que é uma qualidade”, completa Silvio enfatizando seu orgulho ao produzir e dirigir tais obras.


Ao ser questionado sobre a linearidade da obra Utopia e Barbárie, Silvio destaca: “É um caos, sim, mas é um caos organizado, tal como a vida e a história são… A história é contraditória, ela não é linear. A história não é um momento, ela é uma linha, ela é controvertida. E Utopia e Barbárie é assim porque é uma história.”


Completa ainda ao revelar os desafios postos durante estes 19 anos de produção: “O tempo do documentário é o tempo da realidade, não o tempo do autor. A história não tem ponto final, os fatos se conectam o tempo todo… A história é muito mais ampla e ela acontece a muitos momentos além da nossa caixinha interpretatória. Parar e finalizar também foi um desafio porque a história e a realidade continuaram e continuam.”


Silvio, além de dialogar sobre suas obras e desafios de produção, compartilhou com os estudantes algumas reflexões acerca do mercado cinematográfico, o qual, segundo ele, está em constante transformação e mudança. “Quando mudaram os cinemas da rua para dentro dos shoppings, a indústria e a cultura do cinema mudou. Utopia e Barbárie, por exemplo, foi um absoluto fracasso de público. O cinema existe na vida, não só nas salas de shopping. O próprio shopping está mudando, vejam as vendas, por conta dos preços online. Com isso, a própria natureza do espetáculo vai mudar” reflete, reforçando que apesar de mercado tem o maior orgulho de ver seus documentários sendo pirateados, porque isso significa que “estão no gosto povo”.


Utopia e Barbárie


Críticas da mídia entendem Utopia e Barbárie como um documentário que mostra as transformações do mundo pós Segunda Guerra Mundial, as utopias criadas e as barbáries que o pontuaram, além do desmanche das utopias da geração de 1968 e a criação de novas perspectivas no mundo globalizado. Mas para o diretor Silvio Tendler, um dos adjetivos que a descreve é “o caos, mas o caos organizado, bem como a realidade.”


Disponível no canal da produtora Caliban Filmes, o filme é descrito como uma obra que reconstrói o mundo a partir da II Guerra Mundial, passando pela Itália, Estados Unidos, Brasil, Vietnam, Cuba, Uruguai, Chile, entre outros países. O longa documenta os protagonistas da História, o humanismo, a necessidade da arte e o destemor das revoluções que moveram gerações no século XX.


Em uma visão poética, mas ainda realista, fala do encontro de artistas e revolucionários em uma festa libertária, de pessoas que viveram e morreram lutando por um mundo melhor, das barbáries que se seguiram e de um sonho que, na visão do diretor, não acabou.


Já prestes a acabar o filme, quando pensou que nada mais o surpreenderia, o diretor, mais uma vez, se depara com outros ciclos da história. Fidel Castro anuncia sua aposentadoria, o mercado financeiro que simboliza o capitalismo entra em colapso e pede ajuda ao Estado, os presidentes Barack Obama e Hugo Chávez apertam as mãos, o bloqueio norte americano a Cuba é levantado.


Para Silvio, “a história não tem ponto final, ela termina com reticências. Como a realidade.”


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