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“Minha avó era palhaço” foi tema de encontro com estudantes de cinema e jornalismo



"Será que sabemos o quanto de memória e história coletiva carregamos em nossas famílias?", reflete Mariana Gabriel durante encontro com estudantes da 2ª edição do projeto Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo.

Mariana Gabriel, cineasta e jornalista, nos presenteou no sábado, 15, com uma aula sobre a história do circo no Brasil, sobre o encontro com uma boa pauta, sobre pesquisa, registro histórico e documentação. Compartilhou a história de sua família e, com ela, fragmentos da história do Brasil e do povo brasileiro. “É impressionante pensar em como a nossa história conta a história do nosso país, e para além do orgulho de neta, como esta obra [Minha avó era palhaço] conta a história e a memória cultural do circo e do nosso povo”, afirma Mariana.

No quarto encontro do módulo Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo, os estudantes discutiram a obra “Minha avó era palhaço”, de Mariana Gabriel e Ana Minehira e tiveram a oportunidade de conversar com Mariana sobre a produção do documentário.

“Minha avó era palhaço” conta a história de Xamego, a grande atração do Circo Guarany nos anos 1940 e, por trás dele – ou à frente dele – a trajetória artística de Maria Eliza Alves dos Reis, a primeira palhaça negra do Brasil. Mariana é sua neta e foi quem dirigiu o documentário.

“Cresci ouvindo as histórias que a minha avó viveu. Cresci com este imaginário de histórias de vó. Não vivi, mas ouvi muito do circo”, acrescenta Mariana trazendo o entusiasmo que foi ler, pela primeira vez, um registro em livro sobre a sua avó. “Quando eu tive contato com o livro, ali, parecia que eles existiam de verdade. João Alves, meu bisavô, do Circo Guarany, todos lembravam e conheciam, mas da minha avó ninguém falava. O livro foi fundamental, foi uma das grandes viradas para entender a importância do registro”.

Ainda se encontram poucos registros e documentações sobre a trajetória de Maria Eliza, pioneira da palhaçaria no Brasil. “Artistas pretos são pessoas invisibilizadas mesmo, por isso é difícil encontrar registros. E por ser mulher e negra, mais difícil ainda. Quando chegamos ao meu bisavô, que era homem, encontramos muitos registros, mas da minha avó não”, completa Mariana.

O documentário, inicialmente projetado para ser veiculado em festivais, ganhou o mundo com caráter educacional e informacional. “Eu fui surpreendida pelos rumos que foram tomando. Circulamos pelo Brasil, na mesma ideia de um circo: vivo e pulsante. Projetamos e discutimos o filme, num momento de partilha, com comunidades diversas, com muitas ‘Marias Elizas’. E isso é emocionante.”

“Tem muita gente produzindo e levando, não só a arte circense, mas também os registros desta arte. Tem gente pesquisando e documentando. Este trabalho vem cobrir uma lacuna que eu só percebi com o caminhar dele”, afirma Mariana compreendendo a importância do registro e da documentação.

Ainda, ao final do encontro, algumas reflexões foram trazidas com o objetivo de perpetuar o diálogo e fomentar pautas e discussões a respeito da temática: Como a gente não fala sobre circo como arte no Brasil? São quase 100 anos desta história que não se fala, que não se vive; Os palhaços cantores foram os primeiros a gravarem discos no Brasil. Como a gente não sabe disso?

“Não cabe estudar arte e cultura sem estudar o circo. Era o circo que levava a arte para todo o país, para os interiores. Era ele que dava acesso à arte para muita gente”, destaca Mariana, lembrando que o circo era um espaço em que os artistas se apresentavam antes mesmo das ocupações dos meios de comunicação de massa, como o rádio e a TV.

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