Tirar a arte dos espaços de privilégio e permitir sonhar para além do que nos aflige são tópicos destacados pela bailarina Fernanda Bueno e pelo produtor cultural Kleber Pagu, criadores da produtora Axé no Corre, durante encontro com estudantes do módulo Cinema e Jornalismo: Luzes sobre São Paulo.
Acessar a arte pela cidade, ou acessar a cidade por meio da arte, parte de algo comum e fixado na Constituição Brasileira: o olhar sobre o direito à cultura e à educação. Com essa premissa, no último sábado, 1/10, os estudantes da segunda edição do módulo Cinema e Jornalismo: Luzes Sobre São Paulo receberam a bailarina e artivista Fernanda Bueno e o produtor cultural, provocador e também artivista, Kleber Pagu, para um bate-papo sobre cultura urbana, coletivos e manifestações artísticas sócio-políticas.
Ambos fazem parte do coletivo Nós Artivistas que enxerga e faz uso da cidade como um grande espaço de arte, como uma galeria a céu aberto, garantindo o acesso universal a todos e todas, quebrando o paradigma de direcionamento da arte a lugares privilegiados e selecionados. “Nossa ação começa pelo movimento, pela ruptura. E nós temos a arte como ferramenta de rompimento, a usamos para dizer o que está nos incomodando”, destaca Fernanda.
Pagu reflete que ainda temos resquícios coloniais da época em que arte era voltada a poucos, em espaços privilegiados que requerem organização de tempo, dinheiro e outros marcadores que não dão acesso gratuito e universal ao que deveria ser. “É um projeto político, um projeto de poder”, afirma.
Para eles, a arte enquanto expressão política se faz necessária, tanto do ponto de vista pedagógico, no que tange o letramento da população, quanto em forma de manifestação artística, na consequência visível de alertas e críticas sociais reproduzidas em forma de arte, seja pela música, pelo grafite, ou por outras formas de expressões. “São processos que emancipam as pessoas”, afirma Fernanda.
Ela entende que o acesso à arte pode promover grandes transformações: “Os desdobramentos das ações são inúmeros. Tem um impacto social muito grande. Não é só estética, é fazer pensar, refletir e ter acesso ao conhecimento. Não é só sobre deixar a paisagem urbana mais agradável, é garantir que todos tenham acesso ao que antes era escondido dentro de galerias”.
Fernanda e Pagu destacam ainda, dois aspectos fundamentais do trabalho em coletivo: um pedagógico (de refletir e fazer arte enquanto manifestação e mostrar o quanto e o porque ela é importante para todas as pessoas) e outro político (de dizer o quanto a arte ainda ocupa espaços de privilégio, desde a escolha do que é ou não arte, de quem pode ou não produzir arte, até o local onde é manifestada).
Percebendo a cidade como uma plataforma de comunicação e acesso livre, eles pensam na arte como manifestação possível de ocupação deste espaço público. “A cidade, a paisagem urbana, é o maior dispositivo de comunicação que a gente tem com acesso livre para todos… É um espaço democrático. E reconhecer este espaço como tal, também deve ser institucionalizado”, afirma Pagu mencionando o projeto de Lei 389/2020 que institui a Galeria de Arte a Céu Aberto como pólo artístico, cultural, histórico e turístico da cidade de São Paulo.
A Galeria é definida por regiões, sobretudo no centro de São Paulo, com um grande número de prédios possíveis de manifestações visuais, como o grafite, por exemplo. O projeto tramita na Câmara Municipal de São Paulo em segunda instância, acesse aqui para conhecer.
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